terça-feira, 27 de novembro de 2007

Pedaços da nossa vida – A Automotora


A vida do aluno do ISM era dramaticamente intensa e trabalhosa, se tivermos em conta que a nossa média etária andava pelos quarenta anos, já caldeados por duas, três ou mais comissões no Ultramar, cada uma com pelo menos dois anos.
Esta vinda para Águeda, se bem que há muito esperada por todos, era mais outra comissão, com um cariz bem diferente, é certo, mas que também implicava uma dolorosa separação da família. Os fins-de-semana eram ansiosamente aguardados: tal como vinte anos antes, quando éramos jovens recrutas e metíamos a célebre «dispensa de formaturas», para podermos ir à terra, ver os pais e as namoradas.
Alguns minutos após o final da última aula de sexta-feira, aí íamos nós direitos à estação, para apanharmos a automotora que fazia o ramal de Águeda para Aveiro. Aqui já nos dispersávamos, tomando os comboios para os nossos destinos, quer para norte quer para sul, mas aquela meia-hora em que viajávamos juntos (e às vezes apinhados) era muito descontraída e alegre, sobretudo quando calhava a vir a automotora mais velhinha, de cor azul, sobre a qual um certo revisor nos disse ser uma «máquina sempre pronta a andar, apesar de ser da vossa idade ou mais velha do que os senhores».


Na imagem: Automotora ME 51-53 (1940/1), com motor Chevrolet, construída nas Oficinas do Vale do Vouga nos anos de 1940 e 1941. Lotação: 10 lugares de 1.ª classe, 15 de 2.ª classe e 5 de pé (Museu da CP – Espaço Museológico de Macinhata do Vouga).

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Recordar é Viver!

Foi nesta linda e medieval Vila de Óbidos que, em 09/06/91, teve lugar na Estalagem "Josefa d`Óbidos", o último convívio conjunto com todos os Cursos do ISM que participaram na contestação ao sistema de promoções e que, felizmente, conseguimos que fosse reposta a justiça emergente. Foram seus promotores os Cap. Correia, Goulart ( e a minha modesta colaboração).
Para alem de relembrar o evento, quero expressar algumas palavras ao nosso camarada Barrisco pelo seu empenho e mestria em que se empenhou durante bastante tempo, na orquestração da Banda Filarmónica de Óbidos, com Sede na "Casa da Música"---- no interior do Castelo.
Muitas vezes encontrei o Barrisco com a sua inseparável "Pasta", possivelmente cheia de pautas, a caminho de Óbidos! Sempre com o seu sorriso
afável que não conseguia dissimular, aliado a uma transparente simpatia! O tempo, inexoravelmente vai exercendo em nós, as suas indeléveis marcas, mas não conseguirá nunca remover a impressão com que as pessoas nos vão marcando! O nosso Maestro foi um deles. Um abraço Barrisco.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Pedaços da nossa vida – O aluno único


O título faz lembrar a célebre «entrevista única» da não menos célebre locutora «Insónia Portugal», da conhecida dupla de cómicos Luís Guilherme e Luís Aleluia.
De facto, o simpático camarada Manuel Joaquim Barrisco era um aluno único: era único no Curso D – Bandas e Fanfarras; era único na turma única do referido curso. Barrisco era ainda o único aluno do ISM especializado em Música – única disciplina que não pôde frequentar no ISM, por não existir um único professor para lha ministrar.
Para além desta situação única, Manuel Joaquim Barrisco irradiava uma simpatia e uma disposição únicas, unicamente afectadas pelos testes de Material, única disciplina capaz de despertar nele uma veia poética única, com a qual escreveria, no Livro de Finalistas, a única letra sem música da sua carreira única.

De toda a matéria dada,
Há uma que, por sinal,
Podia ser reduzida:
O maldito Material.

Em sua substituição,
A Música eu poria.
Talvez p’ra muitos estômagos
Fosse remédio p’rá azia...

Aqui deixo um grande abraço ao Barrisco.
... E não serei o único!

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Recordar o Miranda

Foi no dia 24-10-89 que o nosso camarada António Miranda Pereira da Silva, deixou o nosso convívio! Nunca é tarde para recordar os amigos e camaradas. Estou certo de exprimir o sentimento de todos os ex-alunos do 1º Curso do ISM.... que se traduz pelo sentimento da perda de um grande amigo e companheiro!
Em nome do autor destas breves linhas, apenas te tenho de dizer meu Caro Miranda...... a última vez que estivemos juntos... eras tu o ilustre Capitão chefe da Secretaria do QG/RMN. Acolheste-me de braços abertos como só os grandes homens e bons amigos, o sabem fazer! Nunca o esquecerei! Que Deus te tenha acolhido de acordo com o teu merecimento terrestre. Cito uns versos que a ti te foram dedicados:

" E agora de regresso ao doce lar
Aceita esta amizade sem favor.
P`ra mim o privilégio foi:--privar
Com quem da integridade fez pendor.

Se ao Porto for(ver a Banda)
Em Gaia estarei, Miranda.
Com o mais que for preciso,
Um abraço do
Narciso "


Confraternizar

Não tendo sido possível a fotografia de Grupo, fica esta para relembrar o magnífico evento que teve lugar em 08Mai2004, no Parque das Nações, entre ex-alunos do 1º Curso do ISM e alguns dos seus familiares, tendo sido seus promotores, os camaradas Calamote e Fonseca. Foi uma tarde vivida com muita alegria, amena cavaqueira e óptimo repasto, lamentando-se apenas a ausência dos camaradas falecidos e de outros que, devido a motivos particulares, alí não puderam comparecer! Que estas iniciativas se vão perpetuando no tempo e que os seus componentes se façam comparecer afim de se manter viva a chama da confraternização e amizade pessoais.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Pedaços da nossa vida – A «Messe do Firmino»


A Messe do Firmino era o nosso principal local de culto do ISM. Diríamos, mesmo, o nosso santuário, pois era o único refúgio onde se não estudava, onde se não tinham aulas e onde se não faziam testes. Ali tínhamos, sim, magnas reuniões três vezes ao dia – pequeno almoço, almoço e jantar –, sempre cumpridas com a maior elevação, porém algumas vezes sem grandes resultados para o estômago.
Na Messe do Firmino abordavam-se os mais variados e candentes assuntos: dizia-se mal dos mestres, das fotocópias, das «secas» ao aluno-de-dia, do tempo de Águeda e, pontualmente, também da comida. Dizer bem de alguma coisa não me lembro, mas admito que tenha acontecido: há gente capaz de tudo.
De vez em quando também havia algum mais «marrão» que ia falar das aulas para um lugar daquela categoria, mas havia logo quem silenciasse o inconveniente infiltrado.
Especialmente agradáveis eram os momentos de espera à abertura da porta, em que a malta, enquanto gozava os escassos momentos de liberdade e o raro soalheiro, vivia a sempre adiada expectativa de uma refeição «cinco estrelas».
-:+:-
O cartoon – ligeiramente adaptado – é do Álvaro Matos, do Curso B – Onde é que andas, companheiro?! –, e consta do Livro de Finalistas do 1.º Curso do ISM.

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Recordar o Guedes


O Manuel de Jesus Guedes foi nosso companheiro-aluno, durante a frequência do 1º Curso do ISM. Era um verdadeiro prodígio de memória, de tal forma que encantava os seus colegas de turma da forma como "desbobinava" matérias anteriormente dadas.
Apesar de ter sido o primeiro do Curso, revelou-se sempre um homem simples, bom companheiro e amigo. Quem visse o Guedes no seu andar gingão, logo se aperceberia que transportava sobre os ombros, pesado computador com muitos Gigas de "RAM".!!
Não resisti em te recordar caro Guedes e lamentar que tão cedo partisses! Transcrevo uma pequena parte dum poema que na altura o Calamote te dedicou:

"Podes pois ,
E preparar-te para nova vida,
onde, também creio,serás senhor.

E a camaradagem cá vivida,
Um dia mais tarde será penhor
De agradável Saudade sentida.

sábado, 10 de novembro de 2007

Pedaços da nossa vida – O «Ti Lobão»

«Ti Lobão» era nome por que, entre nós, tratávamos o Ten Cor Mário Ezequiel Lobão da Cruz, nosso professor de Justiça e Disciplina Militar. Era o que se costuma designar por uma grande figura de homem: alto, forte, soberbo, patriarcal. Leccionava-nos, além dos famosos RDM e CJM, importantes noções de Direito. Foi com ele que nos familiarizámos com «palavrões» como acórdão, libelo, nexo de causalidade, direito consuetudinário, pacto leonino, usucapião e tantos outros ainda inexistentes ou adormecidos no nosso léxico.
O «Ti Lobão» tinha um cão enorme, um Serra da Estrela ou um Pastor Alemão – não me recordo bem –, que passeava todas as tardes depois das aulas. A altivez e a elegância do colosso impressionavam a tal ponto, que o mínimo que vinha à mente das pessoas, sem qualquer ofensa, era a constatação da excelente harmonia entre as duas componentes do imponente binómio, como hoje se diz.
A natural simpatia do «Ti Lobão» ficou consagrada no Livro de Finalistas do Curso:

Porte alto, andar ritmado,
Entra na aula começa a ler.
Abre o Código, sai ditado!
É escrever! Depressa, é escrever!
+++
Diz o povo (e terá razão)
Que a Justiça e todos cobre.
Mas sendo assim, porque então
É preciso ter um cão,
Mesmo que o físico sobre?!

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Recordando um Amigo

O pequeno trecho de poema que transcrevo, foi escrito pelo Calamote no livro do final do 1.º Curso do ISM e dedicado ao extinto mas saudoso companheiro, Américo Mateus Lourenço.

Veio da Cheret e é Infante,
É brioso até mais não;
Aplicado e bom estudante,
E grande Camaradão.

Porque partiste tão prematuramente, Lourenço? Sentimos a tua falta como uma perda, desde a hora em que a desdita te bateu à porta! Que tenhas tido no Além, o mesmo acolhimento com que todos os teus camaradas te presentearam cá neste paraíso terreal! Paz à tua alma amigo Lourenço.